Sou um poeta
cansado e cansativo,
acordado, adormecido,
mas sou um poeta.
Sou aquele sem medida,
sem freio, sem paciência,
aquele que quer agora
na mais pura indecência.
Sou aquele abandonado,
que no abandono se refresca,
o que se banha no seco
e mergulha numa fresta.
Sou aquele que partiu
antes do adeus,
porque não há morte maior
do que não me ver nos olhos teus.
Sou aquele que segue
nas ruas vazias e frias,
estou nas esquinas,
estou em todas as vias.
Sou aquele que encontras
e finges não ver,
sou o retrato de mim mesmo,
o espelho do meu viver.
Sou um poeta
triste e tristonho,
que se nega ao possível
e o impossível te proponho.
Sou aquele que caiu do teu peito
feito uma folha morta
que voa ao sabor do vento
e não mais te importa.
Sou aquele que sangra a saudade,
sou aquele que ama tua liberdade,
sou aquele amor bendito,
antes eterno, agora finito.
Sou apenas um poeta,
nada mais que um poeta.